Tapas - austeridade तपस्

Breve Introdução:

No texto "Os alicerces do yoga" foram abordados os oito membros do yoga, segundo os Yogasutras de Patanjali: Yama (autocontrole); Nyama (regras estabelecidas); Asana (posturas); Pranayama (controle da respiração); Pratyahara (dissociação da consciência dos estímulos exteriores); Dharana (concentração); Dhyana (meditação) e Samadhi (identificação com a consciência pura).  

Para relembrar, os Niyamas são cinco observâncias que todo o iogue deve buscar:

Shausha, pureza; Santosha, satisfação; Tapas, austeridade; Ishwara-pranidhana, entrega; e, Swadhyaya - auto-estudo.

Neste texto será abordado o III Niyama, Tapas - austeridade तपस्

Austeridade é uma palavra que vem com uma carga não muito positiva ultimamente. De acordo com o dicionário, o significado de austeridade é "qualidade de quem age com rigor diante dos demais; rigidez". Pode ser entendido como "que demanda grandes esforços das pessoas envolvidas, árduo". Sim, esse Niyama trás essa energia de seriedade e disciplina para a prática do dia-a-dia da yoga. Neste texto tem um compilado de pontos de vista, significados e explicações sobre Tapas - Austeridade.

Tapas significa calor, energia psíquica, fervor espiritual ou ardor [2]; brilhar, sofrer dor ou ser consumido pelo calor [3].  "Gerar calor" aqui é no sentido de despertar, ou estimular,  todo o Ser para uma consciência superior [4]. Acredita-se que o deus fogo - Agni - é quem faz a ponte entre o reino humano e o reino espiritual, possibilitando que as oferendas sejam transformadas em essência sutil, capazes de nutrir e restaurar o ambiente. O fogo queima, transformando a energia densa em formas mais sutis de energia [7].  Portanto, é uma ação de sublimação ou canalização dos instintos mais baixos (Raga - apegos e Dwesha - aversões) para qualidades divinas,  transformar o homem animal em um homem divino [7]. Destruição das impurezas para alcançar a perfeição de corpo e sentidos [6].

Ainda de acordo com a definição do dicionário hindu, pode ser entendido como disciplina espiritual purificatória [2], especialmente a que envolve alguma forma de austeridade física ou abnegação [4]. Levar uma vida disciplinada [8]. Um esforço ardente para alcançar um objetivo definido na vida [3]. Desenvolver a capacidade de fazer as coisas mais difíceis, de ir além dos limites [6]. 

Basicamente, tapas é uma disciplina espiritual que produz um resultado perceptível, particularmente na forma de purificação [4].

Essas disciplinas podem ser  privações simples, como pular uma refeição, deixar de fazer alguma coisa, seguir um ritual durante determinado período de tempo. Mas pode envolver disciplinas severas, como por exemplo ficar constantemente em pé, nunca sentando ou deitando, nem mesmo para dormir. Ou fazer um voto de silêncio, um voto de celibato.

Tapas pode ser de três tipos. Pode estar relacionado ao corpo (kayika), à fala (vachika) ou à mente (manasika). Autocontrole (brahmacharya) e não violência (ahimsa) são tapas relacionados ao corpo.  Recitar mantras, falar a verdade (satya)  são tapas relacionados à fala. Desenvolver uma atitude mental para permanecer tranquilo, equilibrado, mantendo o autocontrole (santosha)  são tapas relacionados à mente [3]. Percebe-se uma ligação entre os yamas e niyamas anteriores à este. Nesse sentido, pode-se entender que tapas nada mais é do que seguir com disciplina e seriedade os códigos descritos por Patanjali, buscando honrar esses comportamentos no dia-a-dia.

Somos de natureza dupla: consciência e energia, espírito e matéria. Tapas tem aqui uma interpretação no sentido de resistir aos opostos [4], estar indiferente aos extremos ou a mudanças externas [1]. Os opostos são fome e sede, calor e frio, alegria e tristeza, adoração e aversão [4; 7], por exemplo. Esses opostos podem ocorrer naturalmente ou por nossa própria escolha, através da abnegação [4]. Manter o estado de espírito estável [7], estar indiferente ao desconforto - quando não há nenhum objetivo útil ao observar esse desconforto [1]. Manter a equanimidade percebendo que tudo é impermanente e assumindo o controle dessas situações, Santosha.

As escrituras advertem contra o ascetismo extremo que prejudica o corpo [2].  Tapas sempre são feitos de acordo com a capacidade do iogue e não precisam ser exagerados, árduos ou além das  habilidades naturais do indivíduo [4]. Lembrando que a prática da não violência é o primeiro yama e é ele que conduz o comportamento mental sobre todos os demais. Não há necessidade alguma de se violentar, colocar a própria saúde em risco. Pratique a amorosidade consigo, se observe e perceba que pequenas ações, constantes e conscientes, promovem grandes resultados. Respeite a si mesmo, conheça seus limites no tempo do agora. Deve-se definir e redefinir os próprios limites continuamente [6], justamente porque estamos em constante transformação. Pratique a paciência e o autoconhecimento.    

Com amorosidade e consciência, a prática de Tapas não precisa ter a carga da severidade. Ao contrário, é um estado de graça, trazendo mudança positiva, transformação e purificação da natureza do indivíduo [2].

Por tapas, o iogue desenvolve força no corpo, mente e caráter. Ele ganha coragem, sabedoria, integridade, franqueza e simplicidade [3]. 

E como aplicar tapas na minha rotina?

Tenho certeza que se você parar para pensar, você já o faz. Ao observar e colocar em prática, no dia-a-dia, os yamas e niyamas, por exemplo. Ou durante a permanência em um asana que, para você, seja desafiador agora. Ao escolher manter uma rotina que te tira da zona de conforto. Durante a permanência sentado em meditação. Ao escolher um dia do mês (ou da semana) para fazer um jejum. Entretanto, abaixo estão algumas dicas de Tapas, segundo Swami Nirmalananda Giri:

"Não há tapas superior ao pranayama; dessa prática vem a purificação e a luz do conhecimento [do eu] [4]".

"A dieta vegetariana é uma jóia da coroa para o iogue, uma vez que incorpora os fundamentos do ahimsa, asteya, aparigraha, shaucha e tapas e produz pureza e clareza da mente e do coração [4]".

São inúmeros os exemplos de tapas na nossa vida, observe, reconheça e agradeça. 

Que todos os seres possam encontrar a paz,

Namastê

तपस्

ૐ

Referências:

[1] Chakra e Kundalini Workbook - Swami Anandakapila Saraswati, 2003

[2] Hinduism´s online lexicon dictionary

[3] Light on yoga - BKS Iyengar, 2005

[4] Om Yoga - Swami Nirmalananda Giri, 2006

[5] Sabedoria e princípios do yoga - Satyananda Yoga Vidya, 2005

[6] Understanding the yoga darshan - Yogacharia Ananda Balayogi Bhavanini, 2011

[7] Yoga Makaranda ou Yoga Saram - Sri T. Krishnamacharya, 1938

[8] Yoga Chikitsa - Yogacharia Ananda Balayogi Bhavanini