Virabhadrasana - A Postura do Guerreiro

Virabhadrasana - A Postura do Guerreiro

        As posturas do guerreiro são super conhecidas na yoga. Além de serem lindas, elas podem ser bem desafiadoras em termos de força e de equilíbrio. Esse texto vai abordar as posturas do guerreiro sob os aspectos físico, energético e mitológico.  Nos conectarmos com a mitologia que dá nome aos asanas é uma maneira de incorporarmos a essência de cada asana na nossa prática de yoga.  Aliás, voces conhecem a história que deu origem ao Virabhadrasana? Não?! Então vamos começar o nosso texto falando sobre ela. 

Se vc não quiser ler a historinha, você pode escutá-la no vídeo abaixo:




          Sati e Shiva eram casados porém o pai de Sati, Daksha Prajapati, não gostava do genro. Daksha não gostava da maneira como Shiva vivia, achava que Ele tinha hábitos estranhos e que Ele tinha uma forma esquisita. Puro preconceito. Um dia Daksha realizou uma festa para os deuses, o Brihaspati-sava, todos os deuses foram convidados exceto a filha e o genro 😒. Sati se sentiu muito insultada e foi questionar o pai. Mas Daksha realmente não aprovava a relação da filha com Shiva e acabou dando uma resposta ainda mais desagradável a ela. Sati ficou furiosa, não queria mais ser conhecida como a filha de Daksha “já que o senhor me deu esse corpo, eu não quero mais ser associada a ele!” ela disse. Ela sentou-se no chão, no meio da festa, e começou a praticar uma série de pranayamas a fim de cultivar o fogo interior (agni) e então pegou fogo, destruindo o corpo que o pai lhe dera. 😨

            Ao saber de tudo isso, Shiva ficou enfurecido. Ele arrancou um pedaço do próprio cabelo (Jata), jogou-o no chão e pisou em cima. A partir da jata de Shiva  e da fúria que ele sentiu, emergiu um enorme guerreiro o qual Shiva nomeu Virabhadra (Vira significa herói e bhadra, auspicioso). Virabhadra era um guerreiro enorme, o corpo dele alcançava o céu, o cabelo dele era flamejante, carregava uma guirlanda de crânios ao redor do pescoço, tinha três olhos e mil braços, cada um portando uma arma. Com um rugido alto, Virabhadra se preparou para o ataque e mirou atentamente ao alvo. Num golpe certeiro, Virabhadra decapitou Daksha, o pai de Sita.😓 

        Conforme a ira de Shiva se esgotava, no lugar surgia uma dor profunda. Shiva percebeu que a vingança nunca traria de volta sua amada Sati. Ele pegou a cabeça de uma cabra, colocou-a sobre os ombros de Daksha e trouxe seu sogro de volta à vida. Feliz por estar vivo, Daksha olhou agora para Shiva com respeito e reverência e o nomeou Shankar, o Benevolente. Unidos pela mesma dor, Shiva e Daksha se abraçaram. Shiva se retirou para sua montanha, Kailasa, onde mergulhou em uma profunda meditação enlutado por Sati. Shiva passou os próximos milênios vagando tristemente pelo cosmos.

      Essa história pode parecer bem sangrenta e triste, distante, quiçá contraditória, da filosofia de yoga que pregamos. No entanto, ela é rica em simbologias que representam aspectos inerentes ao ser humano. 
         O uso dos mitos (ou também dos contos, como faz a autora Clarissa Pinkola Estés do livro "Mulheres que correm com os lobos") tornam o lado sombrio humano mais acessível. A prática da yoga permite que encaremos nossas sombras e aquelas emoções que preferimos esconder como a raiva, o medo e a insegurança. O guerreiro feroz que nos assusta é o mesmo guerreiro que pode nos salvar. Através desse encontro podemos extrair força, coragem, determinação para destruir - simbolicamente - nossos inimigos internos e externos. 
          
        O guerreiro se apresenta para sacudir o estado de estagnação e desânimo, despertando a força interior para que tenhamos a coragem e a iniciativa para avançarmos no caminho do autoconhecimento e para agir diante de qualquer tipo de violência que nos seja imposta: física ou psicológica. Ao encararmos nossos monstros podemos encontrar a luz que revela a base de todas essas emoções, que é o amor. 

        As posturas do guerreiro Virabhadrasana I, II e III são baseadas nas três etapas míticas de Virabhadra: 
  • Ao emergir do solo, ecoou um estrondo e, através de uma nuvem de poeira, o corpo de Virabhadra se ergue em direção ao céu. Esse é Virabhadrasana I, "o nascimento" do guerreiro. Os pés bem afastados e devidamente posicionados, os quadris giram para o lado de execução da postura e os braços ficam estendidos para cima com as mãos em prece. Um expressão da força com o olhar na direção das mãos, que apontam para o céu.
  • Com um rugido alto, Virabhadra sacou a arma, encontrou o alvo, estreitou os olhos, fitando o alvo, esperando o momento para desferir o golpe. A postura parte da mesma base de Virabhadasana I, mas agora o peito se alinha ao centro do corpo, proporcionando uma abertura pélvica, e os braços se estendem lateralmente. É a cabeça que gira para o lado de execução da postura. Esse é Vidrabhadasana II, um olhar afiado sob a ponta da espada para desferir o golpe perfeito.
  • O golpe certeiro então é desferido pelo Virabhadrasana III. Nessa etapa a base muda. Sobre uma perna, o corpo fica paralelo ao chão com os braços estendidos à frente a outra perna para trás. Aqui o equilíbrio é conquistado ao observar os braços e perna que estão estendidos.
O olhar é um ponto importante para a postura do guerreiro. Ao direcionarmos o nosso olhar vamos manter uma mente firme e não ramificada para aquela direção. Quando a mente é firme ela vê uma decisão e segue orientada por ela para a realização daquele propósito e não vaga em diversas possibilidades sem escolher qual seguir.

Vamos aprender o passo a passo de cada uma das três posturas e observar os grupos musculares requeridos para cada uma delas.

Virabhadrasana I - Anatomia da Yoga
Erga as mãos unidas em direção ao céu e sinta o peito se mover para cima e para frente. Alinhe os seus quadris em direção à frente do tapete. Pressione o calcanhar que está atrás para baixo para obter estabilidade. A coxa da frente é flexionada até que esteja paralela ao tapetinho. Estique a perna de trás. Estabilize a força em ambos os pés. Sinta um alongamento enorme no psoas ao aproximar sua perna paralelamente ao chão. O peitoral maior e menor se abrem conforme o tórax se eleva. Conforme você avança em direção à flexão para trás, os abdominais começarão a se alargar. Ambos os quadríceps estão ativos e fortes para manter o tronco firme e erguido. Os glúteos se comprimem enquanto você trabalha neste agachamento profundo. Sinta os rombóides, eretor da coluna e o latíssimo do dorso queimarem para fazer com que você se incline para trás. 

Mantenha a sua coxa dianteira flexionada e paralela ao chão. Comece a contrair
Virabhadrasana II - Anatomia da Yoga
 isometricamente os pés um em direção ao outro. Permita que a parte de trás do quadril se abra e se alinhe lateralmente. Alongue os braços a partir dos dedos das mãos mantendo a largura dos ombros e gire os ombros para trás e para baixo. Permita um alongamento profundo e controlado ao longo do tendão do calcanhar anterior. Sinta o psoas, o ilíaco e o tensor da fáscia lata se alongarem à medida que os quadris se abrem. A quantidade de rotação depende de uma variedade de fatores e deve se iniciar a partir da ação do pé e de toda a perna, ao invés de construir uma ação isolada da articulação do quadril. Alongue-se ativamente e sinta o alargamento profundo no peitoral maior e menor. Fortaleça ambos os quadríceps e comece a sentir uma leve contração nos adutores do quadril e no pectíneo. Use a força dos músculos abdominais para manter o tronco ereto e alongado. Sinta os deltóides, trapézios e rombóides ativados no dorso.

Estenda os braços para a frente e a perna para trás mantendo o pé ativo. Gire os
Virabhadrasana III - Anatomia da yoga
ombros para trás e levante o peito. Sinta a parte inferior girar e a perna elevar-se paralelamente ao solo. Aterre até o dedão do pé enquanto o cóccix e o fêmur em pé se movem para trás. Você sentirá um alongamento intenso nos dois músculos isquiotibiais internos ao inclinar-se para frente e, à medida que você alinha os quadris, o músculo externo se alonga. Sinta o psoas alongar à medida que a perna se levanta. Mantenha o peito aberto. O tecido conjuntivo do tornozelo, o gastrocnêmio e o quadríceps estão todos envolvidos no equilíbrio. O glúteo e o quadríceps da perna elevada se alargam quando você aponta o dedo do pé para trás. Sinta a parede abdominal e os rombóides se fortalecerem enquanto você levanta a parte superior do corpo. Para que o nível da pelve seja mantido é necessário que os adutores da perna se alonguem enquanto estiverem ativos.. As ações combinadas nessa postura podem envolver alguns dos maiores grupos musculares do tronco. A respiração se torna mais difícil se a musculatura mais superficial das costas forem utilizadas para manter a coluna em alinhamento. 

            Em todas elas a força parte da base, dos pés em Pada Bandha, é sustentada pelas coxas e equilibrada pela força dos glúteos.  Segundo Kaminoff, 2013 "(...) a porção inferior do corpo precisa estar articulada e forte para permitir que a respiração flua livremente"Observe as sensações no coração e perceba a conexão entre ele, a base do tronco e o crescimento vertical na postura.

            Em termos de energia, os chakras raíz, sexual e plexo solar são os mais beneficiados pela sequência desses asanas. Tudo que diz respeito à nossa sobrevivência se relaciona ao Muladhara Chakra, ou chakra raíz. A energia que ele conduz nos dá a firmeza para construirmos a nossa vida com estabilidade e força de realização. O Chakra Swadhisthana, ou sexual, fortalece a nossa capacidade de abertura para receber novas ideias e inspiração divina, guiando através da criatividade. E o Manipura Ckakra, ou plexo solar, é o centro de energia o qual nos relacionamos de forma ativa com o mundo e com as pessoas a nossa volta.

Imagem retirada de Beyond Mars
Em Virabhadrasana I - Solidifique a sua base sentindo o apana no Muladhara chakra e, a partir dele, permita que o prana flua através de Manipura e Anahata chakras. 




Imagem retirada de Beyond Mars
Já o foco de  Virabhadrasana II são os dois chakras centrais: SwadhisthanaManipura.   O prana brota do Muladhara chakra e flui para preencher e abrir Swadhisthana e Manipura chakras, portanto, concentre-se para fazer a energia subir a partir do chakra raiz. Foque em enviar apana fortalecendo o muladara chakra. 


Imagem retirada de Beyond Mars
A postura de Virabhadrasana III permite a abertura do Muladhara chakra. Inspire prana através da base do pé que está enraizado e deixe ele fluir ao longo dos chakras alinhados na coluna. Conforme você progredir na postura, o peito se eleva permitindo uma abertura do Manipura chakra. Leve uma energia de equilíbrio para a perna de base usando o apana.

"Ofereço minhas sinceras orações ao Senhor Virabhadra 
que é tão feroz quanto Yama e cuja risada terrível faz os mundos tremerem, 
por destruir meus medos ao cruzar o oceano terrível das adversidades." 
[Lord Siva and His Worship]


Que todos os seres possam desenvolver a coragem,
Namastê

Referências:
Anatomia da Yoga, Leslie Kaminoff. 2013
Lord Siva and His worship, Sri Sivananda. Índia, 2000.

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