Ishwarapranidhana - Entrega
Breve Introdução:
Segundo os yogasutras, obtenção de samadhi (II.45) [6].
No texto "Os alicerces do yoga" foram abordados os oito membros do yoga, segundo os Yogasutras de Patanjali: Yama (autocontrole); Nyama (regras estabelecidas); Asana (posturas); Pranayama (controle da respiração); Pratyahara (dissociação da consciência dos estímulos exteriores); Dharana (concentração); Dhyana (meditação) e Samadhi (identificação com a consciência pura).
Para relembrar, os Niyamas são cinco observâncias que todo o iogue deve buscar:
Shausha, pureza; Santosha, satisfação; Tapas, austeridade; Ishwara-pranidhana, entrega; e, Swadhyaya - auto-estudo.
Ishwarapranidhana - Entrega ईश्वरप्रणिधान
Pessoalmente, eu gosto muito do termo "entrega" para esse niyama. É comum que a interpretação desse niyama seja "devoção à Deus; entrega à uma energia superior". Penso que essa interpretação pode ser subjetiva demais. Além de ser excludente àqueles que não possuem crenças ou que não são adeptos às práticas espirituais. Yoga não é religião. Yoga não segrega, não particiona, não divide - ao contrário, a prática tem o objetivo de unir todas as partes do indivíduo e levar a compreensão de que fazemos parte de um todo e que pertencemos. Todo tipo de vida importa e é necessária para a manutenção do todo. Os yamas e niyamas nos levam a compreensão de que somos os autores das nossas vidas, responsáveis pelos nossos pensamentos, pela nossa fala e nossas ações, e tudo isso tem um grande impacto nas relações sociais, ambientais, políticas. E a entrega é aquilo que você precisa para praticar todos os ensinamentos, para mergulhar dentro de si e se permitir olhar ao redor com mais amorosidade, livre de preconceitos, de julgamentos, de raiva, mágoa, desejos.
Tudo na nossa vida exige uma entrega pessoal e para que essa entrega seja possível, você precisa sentir segurança e acreditar que aquilo pode dar certo. São escolhas que você faz o tempo todo. Quando você se apaixona e se entrega para vivenciar o amor. Quando você escolhe um curso e se entrega àquele aprendizado, àquela ciência. Quando você decide e se entrega à realização daquilo. Tudo é uma entrega e ela depende de você, da sua capacidade de acreditar naquilo, de ter fé. Perceba que essa fé não é, necessariamente, em um Deus, ela é - principalmente - em você e na sua capacidade, na sua abertura, na sua segurança. Sem abertura, segurança, você não vai nem tentar. Sem tentar você nunca vai saber se aquilo é bom ou ruim. Por isso dizemos que yoga é uma filosofia prática: você precisa fazer, precisa se entregar, testar, para - com o seu próprio olhar e senso crítico - perceber se aquilo foi ou não foi bom para você. É preciso entrega! É preciso coragem!
Então vamos começar com os pontos de vista de alguns mestres sobre esse Niyama.
Ishwarapranidhana (ou Iswara Pranidhana, ou Ishvara Pranidhana), significa devoção para Deus [1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8;].
É esse processo de vida em andamento. Não é ser, nem pessoa, é todo esse processo de vida e consciência da vida [1]. Quem pratica Ishwarapranidhana é dedicado ao processo contínuo de vida e evolução do eu [1]. "Oferecer as nossas realizações à energia divina que flui dentro de nós” [5]. "Isto implica a compreensão de que não somos os mestres da Terra nem os senhores da Natureza. Nós somos, de fato, apenas uma projeção da Natureza. Antes de conquistarmos a maestria sobre a Natureza e os elementos, temos primeiro que ser mestres e senhores sobre nossas mentes, natureza e emoções" [5].
Patanjali versa que a meta da yoga só se alcança quando a natureza egocêntrica do homem é separada, deixando de lado a constante identificação do indivíduo com ele mesmo [7]. Deve-se fazer o melhor, dentro das circunstâncias e das limitações individuais, sem a preocupação com o resultado a ser obtido, libertar-se das expectativas por um resultado [6]. Pois, "(...) em uma mente cheia de pensamentos de gratificação pessoal, há o perigo dos sentidos serem arrastados pela mente apenas na direção dos objetos de desejo" [3]. Portanto, fazer sem esperar nada em troca resulta em ações puras e responsáveis [6]. "Por meio desse simples ato de dedicação e entrega, nos lembramos da nossa conexão com o nosso poder superior e nossa prática se torna algo sagrado, cheia de graça, amor e paz interior" [7].
Gosto, em particular, do ponto de vista apresentado por Satyananda Yoga Vidya, no livro "Sabedoria e princípios do yoga", sobre esse niyama, transcrevo-o abaixo:
"O ecossistema precedeu nossa existência, e temos que aprender a nos adaptar e adotar seus ritmos e ciclos, re-alinhando nossos próprios ciclos e ritmos naturais internos [5]. Respeito pelos outros seres humanos, pelo ambiente e pelos animais e espécies vegetais é uma expressão da nossa submissão incondicional ao poder mais alto que criou todas as coisas com afeição e amor, e isso inclui o complexo corpo-mente ao qual fomos confiados [5]. Então, como as folhas de uma árvore no outono, nossos velhos padrões de pensamento e comportamento, que dependem de nossa insegurança, dúvidas e medos, começarão a cair, permitindo o surgimento de novos brotos, pensamentos positivos de esperança e aceitação que vão emergir como bonitas flores de compaixão e amor para nossos companheiros de viagem e para o meio ambiente" [5].
"Aquele que sabe que toda a criação pertence ao Senhor,
não ficará cheio de orgulho nem embebedado de poder" [3].
Então entregue-se à sua verdade, vivencie aquilo que você acredita, coloque em prática os ensinamentos que fazem sentido a você. Tenha coragem, se jogue. Curve-se à sua própria divindade. Não esqueça, "namastê" significa "curvo-me diante de ti" ou "eu lhe reverencio", e pode ser entendido como "a essência divina que vive em mim presta reverência à essência divina que vive em você".
Que todos os seres possam vivenciar Iswara Pranidhana,
Namastê
ॐ
Referências:
[1] Chakra e Kundalini Workbook - Swami Anandakapila Saraswati, 2003
[2] Hinduism´s online lexicon dictionary
[3] Light on yoga - BKS Iyengar, 2005
[4] Om Yoga - Swami Nirmalananda Giri, 2006
[5] Sabedoria e princípios do yoga - Satyananda Yoga Vidya, 2005
[6] Understanding the yoga darshan - Yogacharia Ananda Balayogi Bhavanini, 2011
[8] Theories of the Chakras - Hiroshi Motoyama
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