Textos clássicos da yoga: linha de tempo e importância
Qual a importância dos textos clássicos da yoga?
Yoga é um conhecimento muito antigo por isso precisamos nos situar com relação à linha do tempo para que possamos entender melhor as origens desses textos.
Pode-se dividir os momentos históricos da yoga, desde a sua origem até hoje, em 5: yoga arcaico, yoga pré-clássico, yoga clássico, yoga pós clássico e yoga moderno. Um breve resumo sobre cada período e a data estimada de cada um deles pode ser estudada na imagem abaixo e no texto que segue.
O Yoga arcaico foi o período em que a Yoga estava em formação. Neste período, a yoga ainda não possuía um saber filosófico e nem prático sistematizado e encontrava-se misturada a todos os tipos de práticas místicas existentes na época. Está vinculado a achados arqueológicos que datam de 3000 aC.
O Yoga pré-clássico data de aproximadamente 1500 aC e está ligado ao surgimento dos Vedas. Pode ser dividido entre o período védico que marcou o início e o seu final, conhecido como período das Upanisad. São nas Upanisads que são encontradas as primeiras alusões ao Yoga como um meio de transcendência. Era caracterizada pela transmissão oral do conhecimento e pelo treinamento, de mestre para discípulo. Esse processo tradicional de transmissão do conhecimento via mestre a discípulo é chamado de parampara. Ainda no período pré-clássico surgem os textos épicos como o Mahabharata e o Ramayana. O Mahabharata é um livro de inestimável valor para a história religiosa e filosófica da Índia. O capítulo mais conhecido do Mahabharata é o Bhagavagita. A Bhagavad-Gita tornou-se uma das escrituras fundamentais do Hinduismo e um dos textos mais conhecidos e divulgados no ocidente.
O Yoga clássico é o período marcado pela elaboração do YogaSutras, atribuído ao sábio Patañjali. A data é estimada entre os anos 200 a 400. Este foi o primeiro tratado sobre Yoga e teve como mérito, além do papel de sistematizar os conhecimentos e as práticas que já eram comuns, como de tornar o Yoga, além de oral, uma tradição escrita. É no YogaSutras que estão enunciadas as práticas que hoje são preconizadas pelos mais diferenciados estilos de Yoga atuais. Os seus 196 sutras indicam um caminho de oito membros para se chegar à liberação: Yama (conduta ética reguladora da ação), niyama (harmonização interior e purificação), €sana (postura física), pranayama (exercícios respiratórios), pratyahara (abstração e interiorização dos sentidos), dhyana (meditação) e samadhi (dissolução ou liberação).
O Yoga pós-clássico, compreende o período entre os séculos VII e XVII, consiste nas tentativas de interpretações e reinterpretações do YogaSutras. Mas o fato que marcou esse período e que merece ser destacado é o surgimento de uma cultura do Yoga baseada no corpo, influenciada pelo tantrismo. Na visão do tantrismo, a natureza é divina e dentro desta, tanto o corpo, quanto a sexualidade são veículos para a transcendência e a realização da natureza divinal no homem. É, em parte, baseada nessa idealização tântrica que se desenvolve a prática e a visão do Hatha Yoga. Os tratados que representam o Hatha Yoga e que primeiro descrevem os asanas têm origem: a Gherandha Samhita, a Hatha Yoga Pradipika e a Siva-Samhita.
O Yoga Moderno é marcado pela chegada da yoga no ocidente (1893) e pelas interpretações dos ensinamentos. Os principais mestres que trouxeram a ciência da yoga para o ocidente são: Vivenkananda, Paramahamsa Yogananda, Krishnamurti, Indra Devi, Ramana Maharish e mais tarde no Brasil com Caio Miranda e Hermógenes.
A partir dessa linha do tempo resumida, podemos identificar que o Yogasutras de Patanjali representa a origem de um ensinamento formal e sistematizado sobre yoga. Pode ser entendido como o conhecimento raiz, a base de tudo que conhecemos por yoga desde então. Tudo o que veio depois teve como ponto de partida esses ensinamentos.
Os sutras de Patanjali não são fáceis de se compreender. Sutras são umconjunto de aforismos reunidos num manual ou em textos mais longos, como prosa. A palavra sutra, em sânscrito, significa costurar. O estudo dos sutras é denso, não é um livro que se lê tudo de uma vez só. Os sutras são ricos em simbolismos e metáfora, cada vez que você lê, você absorve alguma coisa diferente. Esse fato leva os mestres a interpretá-lo, cada qual a sua maneira e voltado ao seu próprio público e conhecimento. Nesse sentido, acho de grande valia as interpretações de mestres sobre o tema, porém não deixemos de buscar essa interpretação nós mesmos, de acordo com as nossas próprias faculdades mentais, culturais e discernimento.
Gosto de salientar que a interpretação desses textos está intimamente ligada ao indivíduo que a lê. Estamos constantemente aprendendo, se autoconhecendo, compreendendo através das nossas vivências, experiências e ambiente que vivemos. Por isso, é necessário revisitar os sutras vez ou outra, para que possamos tirar outros entendimentos deles, ou para que possamos ter uma maior clareza. Sou favorável em ter os sutras como um livro de consultas, sempre por perto. De usá-lo como objeto de auto estudo, se permitindo meditar sobre a leitura durante um tempo, antes de passar para o próximo sutra. Ao meditar sobre cada sutra nos permitimos um tempo para digerir aquela informação e para encontrar o sentido dentro de nós mesmos. Depois disso podemos buscar as interpretações de outros mestres para cada ensinamento, uma maneira de termos outros pontos de vista.
O Hatha Yoga Pradipika é outro manual de referência, tão importante quanto os Yoga Sutras de Patanjali. Foi o primeiro registro dos yogasanas e é a base de referência para o Hatha Yoga, por isso a leitura e a utilização dos conhecimentos descritos nele são tão importantes. Da mesma maneira que os Yoga Sutras de Patanjali, o Hatha Yoga Pradipika deve ser lido aos poucos, interiorizando cada ensinamento, encontrando a clareza em nós mesmos.
Sempre tenha em mente que a yoga é um processo individual e de caráter prático: o conhecimento precisa ser vivido, experimentado, para que faça sentido para você.
Que todos os seres possam ter sabedoria,
Namastê
ૐ
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