Asanas
No texto "Os alicerces do yoga" foram abordados os oito membros do yoga, segundo os Yogasutras de Patanjali: Yama (autocontrole); Nyama (regras estabelecidas); Asana (posturas); Pranayama (controle da respiração); Pratyahara (dissociação da consciência dos estímulos exteriores); Dharana (concentração); Dhyana (meditação) e Samadhi (identificação com a consciência pura). Pode-se dividir esses oito passos em cinco grupos: 1 - treinamento moral, purificação e harmonização da mente através da prática dos Yamas e Niyamas; 2 - treinamento físico, regulação da energia vital, circulação sanguínea e funções musculares através da prática dos asanas e dos pranayamas; 3 - treinamento mental, autoconhecimento e controle da consciência ao praticar Pratyahara e Dharana; 4 - treinamento espiritual atingindo a superconsciência e o contato com seres espirituais ao praticar Dhyana; 5 - unidade com o divino, o estágio mais alto do desenvolvimento espiritual.
Neste texto será abordado o terceiro aspecto e, talvez o mais conhecido, desse caminho óctuplo do yoga: os asanas. Ao pensar em yoga, a primeira coisa que vem a mente são os asanas. De imediato, é possível observar que os asanas representam apenas 1/8 da prática de yoga. Dentre os 195 sutras descritos por Patanjanli, apenas 4 mencionam o corpo físico. Faz-se necessário lembrar o sentido da prática de yoga, que é a unificação, ou transformação dos sentidos, indicando que a meta é a transformação do interior. Portanto, a prática dos asanas tem como objetivo principal preparar o corpo para a meditação. 🙏
Os Yama e Niyama controlam as paixões e emoções do iogue
e o mantêm em harmonia na sociedade. A prática dos Asanas mantêm o corpo saudável, forte e em harmonia com a natureza. Ao dominar o corpo o iogue o torna um veículo adequado para a alma [5].
Asana é uma palavra em sânscrito que significa "assento; postura" [3]. De acordo com os Yogasutras de Patanjali, o Asana deve ser uma postura corporal na qual o iogue possa ficar sentado por um longo tempo para meditar, sem desconforto [9]. Uma postura imóvel na qual mente e corpo estão relaxados e serenos [7] num estado que irradia estabilidade e conforto [8]. Também pode ser definido como posições psicofísicas que equilibram corpo e mente [6]. Ou ainda, um estado de ser em que se pode permanecer fisicamente e mentalmente estável, calmo e confortável [1].
Asanas são posições corporais específicas que abrem os canais de energia e centros psíquicos. São ferramentas para aumentar a conscientização e fornecer a base estável para a exploração do corpo, da respiração, da mente e além. Os hatha iogues descobriram que, desenvolvendo o controle do corpo através do asana, a mente também é controlada. Portanto, a prática do asana é a base principal do hatha yoga [1]. De acordo com a tradição, Shiva criou a yoga e os asanas. Ele inventou 8.400.000 asanas e os ensinou à deusa Parvati, sua primeira discípula. No entanto, depois de vários milhares de anos, apenas 84 asanas são descritos em detalhes nas escrituras [7]. No Gheranda Samhita, uma das escrituras clássicas do Hatha Yoga, são descritos 32 asanas que são uteis para os que habitam esse mundo [2].
Cada asana possui benefícios únicos e trabalha de maneira diferente os órgãos internos, liberando energias em diferentes partes do sistema nervoso [3]. Os asanas dinâmicos agem para remover a rigidez, fortalecer os músculos, melhorar a pele, melhorar as funções dos pulmões e a atividade dos órgãos digestivos e excretores. Os asanas estáticos são praticados mantendo-se imóvel na postura por vários minutos enquanto respira-se silenciosamente. Eles fornecem uma massagem suave para os órgãos internos, glândulas endócrinas, músculos e sistema nervoso. Os asanas estáticos são um bom exercício preparatório para a meditação, devido ao seu efeito calmante sobre a mente, já que devem ser praticados com concentração mental em uma área do corpo [7]. Enquanto a ciência física do hatha yoga pode influenciar drasticamente saúde e bem-estar geral, é principalmente uma preparação para meditação [3].
Muitas pessoas associam os asanas a exercícios físicos e a prática de yoga como atividade física. Isso é um mal entendido. A prática de yoga, bem como os asanas, diferem dos exercícios físicos principalmente pela motivação principal: a transformação interior. Os exercícios físicos desenvolvem apenas os músculos superficiais do corpo. A prática dos asanas são destinados para o desenvolvimento físico e espiritual [4]. O objetivo da realização dos asanas é promover a saúde mental, espiritual e física. Para executá-los é necessário um local limpo e arejado, um tapete e determinação. Praticando-os desenvolve-se agilidade, equilíbrio, resistência e grande vitalidade. As principais diferenças entre a prática de yoga e uma prática de atividade física qualquer, são as listadas a seguir: o objetivo da prática de yoga é a transformação interior; os movimentos são leves e lentos; a respiração é profunda e longa; desenvolve-se uma concentração aguçada; não há necessidade de equipamentos, locais ou itens específicos, a prática dos asanas pode ser feita sozinho, já que o próprio corpo fornece o instrumento necessário para a realização [7; 5].
Embora o iogue não subestime o corpo,
ele não pensa apenas na aparência física,
mas considera também todos os sentidos,
a mente, o intelecto e a alma [5].
Os asanas tem como objetivo desenvolver a harmonia entre o nosso ambiente interno com o meio natural externo [6].
Os asanas foram criados através da observação daqueles que, há muitos anos atrás, viviam de maneira pacífica entre os animais. Eles perceberam que os animais vivem em harmonia com seus corpos e com o ambiente (tomando do ambiente somente o necessário para o dia). Como resultado destas observações, eles puderam formular certas posições que influenciam as glândulas e hormônios do corpo humano com o objetivo de equilibrar o complexo corpo-mente e acelerar o processo de evolução e crescimento [6]. Basta observar os nomes das posturas: podem ser do reino animal, vegetal, podem homenagear deuses e reis. Enquanto realiza asanas, o corpo do iogue assume muitas formas semelhantes a uma variedade de criaturas. Nenhuma criatura deve ser desprezada pois, entre toda a gama da criação, do inseto mais humilde ao sábio mais perfeito, respira o mesmo Espírito Universal, que assume inúmeras formas. Assim encontra unidade na universalidade [5].
"O iogue percebe que sua vida e todas as suas atividades fazem parte da divina ação da natureza, manifestando-se e operando na forma de homem. Na pulsação do pulso e no ritmo da respiração, ele reconhece o fluxo das estações e o pulsar da vida universal. Seu corpo é um templo que abriga a Centelha Divina. Ele sente que negligenciar ou negar as necessidades do corpo e considerá-lo como algo não divino, é negligenciar e negar a vida universal da qual faz parte. As necessidades do corpo são as necessidades do espírito divino que vive através do corpo. O iogue não olha para o céu para encontrar Deus, pois ele sabe que está dentro, sendo conhecido como Antaratma (o Ser Interior). Ele sente o reino de Deus por dentro e por fora e descobre que o céu está em si mesmo [5]."
Que todos os seres possam encontrar a paz,
Namastê
ૐ
Referências:
[1]Asana, Pranayama, Mudra, Bandha: Swami Satyananda Saraswati. Índia, 1996.
[2]Gheranda Samhita
[3]Hinduism Online Lexicon
[4]Kundalini Yoga: Sri Swami Sivananda. Índia, 1994.
[5]Light on Yoga: B K S Iyengar.
[6]Sabedoria e Princípios do Yoga: Satyananda Yoga Vidya. Brasil, 2005.
[7]Theories of the Chakras: Hiroshi Motoyama. Índia, 2008.
[8]Understanding the Yoga Darshan: Yogacharya Ananda Balayogi Bhavanani. Índia, 2011.
[9]Yoga of Gita, Inner Secrets of Raja Yoga: Swami Yogeshwarananda. Índia, 2015.
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